Conduzido por sensações parei. Parei para pensar no que sentia. Senti que parei. Deixei de sentir...

segunda-feira, junho 18, 2007

...tropeçava pela centésima vez. Esta hipérbole servia o interesse de realçar o cansaço que era levantar-se cada vez que a carcaça envelhecida, sinónimo de corpo, se prostrava no chão humedecido. A idade dele não era real. Tinha ultrapassado a sua noção de tempo de tal forma que, se lhe perguntassem o quão velho ele era, a resposta era dada em forma de reticências...
O saco de pano gasto, que o velho (chamemos-lhe assim, já que os nomes são para os géneros) arrastava, continha o seu passado, presente e, mais importante, o que restaria do seu futuro. O peso era, obviamente, heterogéneo. O passado puxava o saco para trás, o presente para baixo e o futuro...esse era leve e, se dependesse dele, ergueria o velho e transportá-lo-ia tal zepelin levado pelo vento.
Tropeçou novamente. Só que desta vez a queda assumiu contornos deintescos. Largou o saco, bateu com a cabeça e a amnésia levou-lhe o passado. O presente turvava, tal neblina, e o que se haveria de seguir não era afoito suficiente para se por a adivinhar.
Sentiu-se levar pelo vento, arrebatado tal folha velha expelida pela árvore da vida. Foi usurpado na forma, fundido no desejo.
Hoje o vento é velho e o velho é vento...

quinta-feira, junho 07, 2007

E, foi assim, que um dia parti para o nunca...
pisando cacos de uma luz apagada...
tacteando; puxando os fios suspensos num céu ausente...
com a esperança de me acender em fogo...de ser o sol, centrado em mim...
voyeur protegido das vidas de mimos gestos genealógicos, cópias perfeitas de ritos inquestionáveis...
com a esperança de atrasar a decifração de um sentimento, remetido, por carta, à exclamação erigida à sombra de uma interrogação por colorir...
E, aos números que assinalam as cores correctas, converti-os em sons...pintei bocejares aos atentos, e atenções desmedidas aos apáticos...
fechei o infantil livro da vida real e folheei o diário do morto...daquele que viveu e nunca se repetiu...
e hoje, perdido no nunca, aplaudo o ausente...único realmente presente...

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