Conduzido por sensações parei. Parei para pensar no que sentia. Senti que parei. Deixei de sentir...

terça-feira, novembro 23, 2010

Sou comprimido, consumido sem prescrição entre desconhecidos, atento a opiniões enevoadas algures do lado de fora do frasco...
a poça, que piso, equaliza o ritmo do meu coração; as minhas botas são aquários com peixes laranja, outrora pétalas suspensas nas golas de camisas brancas; a gravata é trepadeira, hirta pelo sentimento, embrulhada ao ramo do carvalho que é forca expectante pela letra errada; calças são raízes que entrelaçam passado com presente tornando o futuro uma memória...
Contracção dos pulmões, humidificação excessiva dos globos oculares, ruborização da face, coração galopante, pernas trémulas, cabelo electrizante, dedos dilatantes, unhas erectas, pelos eriçados, braços desmaiados, testa franzida sobre o nariz franzino, lábios encerrados tais pontes levadiças prontas para erguerem uma palavra...
ou um beijo suspenso, atento ao barco que é língua húmida, cruzando oceanos profundos tais como sentimentos vendidos em embrulhos de jornal, quentes como castanhas de São Martinho, embriagados em jerupiga...
a levante, buscando tumidificar a razão, sensaboriando memórias retratadas em estátuas de sal, dispostas no passado, carpindo esperanças para as semear num cabo cruzado pela Lusitania...
do ubíquo retirei a invisibilidade outrora indivisivel e, sem o pudor da observação, cheirei, vi, toquei e senti, lambi e saboreei, dirimi-a no seu aspecto curvo, forma pairante suspensa no ponto final, aberto agora a reticências...
paixão sem oxigénio, vasos sanguíneos sem flor, sonho que é ácido vertido no diálogo, poema raso passado a ferro de engomar que é fogo aceso, palavras são labaredas, borrachas de reprodução, ausentando-as de ser...
elevando-as, por serem mais leves que a alma, a nuvens que são patamares de evolução moral, escondendo Prometeus das aves do Restelo, obliterando sorriso das crianças de um mundo pré-espacial, onde e quando pianos alados eram e música mensagem fora...

domingo, outubro 17, 2010

Isabel era uma criatura bicéfala, não porque ostentasse duas cabeças como o nome o sugere, mas porque tinha disturbio bipolar. De hiper sensível relativamente ao meio que a rodeava, facilmente passava a destrutiva com uma incontrolável sede por violência. Num desses estados menos apelativos socialmente, cravou os dente...s caninos numa professora quando tinha apenas 20 anos, e foi internada num... bordel.
Lá desaprendeu toda a moralidade imposta pela madrasta e o único ponto comum entre aprendizagem e desaprendizagem era a brutalidade como ambas lhe tinham sido impostas. Violência era duas faces de uma moeda que ela mantinha no bolso de um coração oprimido.
Apenas um dos clientes se mantinha fiel aos inconstantes assomos de Isabel, não por bizarria ou luxuria, mas por amor. Eduardo gastava o seu lacónico salário mensal no bordel, raramente envolvendo-se carnalmente com a fornecedora forçada de serviços, mas nada neste mundo o demoveria de tal comportamento.
às 17:30h Eduardo picava o ponto, retirava a bata, cujos bolsos pesavam balas de calibre 52 mm e seguia para casa às segundas, tinha aulas de braile às terças, encontrava-se com Isabel às quartas, às quintas praticava retenção da respiração num poço escondido num quintal abandonado e às sextas rezava na montanha pela alma da amada...
O acto de rezar pesava em verdadeira crença, quando Eduardo pisava um degrau superior da pirâmide etária, quando o seu relógio biológico disparava o alarme que indicava que não era eterno, quando Isabel levava uma vida que enfunava qualquer manual sagrado...
Ajoelhar-se era actividade referida no diário, repetida em cada página, sem jejum. Um deus limpo, sem mácula, descrito complexamente no guião divino elaborado por mentores iluminados, em perfeita dessincronizaçao com o deus em que Isabel acreditava e que visualizava nos seus labirintos existenciais. Era o minotauro da cognição que, ao invés de a ajudar, criava-lhe obstáculos intransponíveis...
O relógio de parede, barulhento de 60 em 60 minutos, gemia 6 vezes. Eram 6 horas da manhã e Isabel recortava modelos de várias revistas de moda esventradas no chão frio do quarto que partilhava com Emille Sardonette, uma devota prostituta de coração.
Eduardo levitava. Nublava a voz, tornando-a roca, à medida que a mente estendia asas e elevava-se transpondo o tecto do autocarro que transportava o corpo a casa. Sentia o ventre apertado, os pulmões comprimidos derivados da vertigem, mas era o sentimento que tornava real, que o tornava irreal. Conseguia ver a luz esbater nas copas, nos troncos, nos semaforos, nas casas, nos humanos distantes. A separação com o social tornava-o mais humano.
Acima das nuvens, girava lentamente, ao sabor do uivo de um vento frio que enrijecia a pele e a alma. Mantinha-se ali, suspenso, a enriquecer, a fortalecer-se para o combate diário 1000 metros mais abaixo.
Uma campainha pavlovliana impunha a sua presença e Eduardo abandonava o autocarro, caminhava por entre predios negros que descaívam quase roçando o seu escalpe, gaivotas que pousavam em alguidares que boiavam nas aguas de Tir, transeuntes cinzentos e hienas que atacavam crianças abandonadas.
E, numa das noites de qiunta, mentalmente equipado para suster a respiração no poço, encontrou Isabel, fora de 4 paredes. Reteve instintivamente a respiração e manteve-a, pulsando as orelhas, durante o tempo suficiente para Isabel atravessar a rua, ignorando a sua presença do lado oposto, apanhar a mala que havia deixado cair, comprar meia dúzia de castanhas, desmembrar uma e mastigá-la calmamente, e tocar com a ponta do pé direito o parapeito do passeio.
Não ousou revelar-se a Isabel, mas a inoperância em reagir trouxe-a tão próxima que seria impossível evitar a interacção. Sentimentos esbugalhados foram os que Eduardo projectou, atiçando a dualidade de critérios que só uma duplicidade de personalidade poderiam demonstrar. O monólogo dialoguisado era o retirar de pétala a pétala da flor da paixão. Amo-o, Não o amo, Amo-o, Não o amo, Eduardo é uma boa pessoa que te ama, Larga esse tipo...
O que define a minha escrita é a forma de me mostrar ao mundo...completamente tapado!
São penas coladas pela ambição que me fazem voar, tocar o cume do céu e rasgá-lo ao meio, dobrá-lo em dois, redobrá-lo por várias vezes para criar um cisne azul que boia numa galáxia que é lago sem fundo...
Kites pontuam o ceu dando sentido as historias que os velhos procuram em memorias apagadas pelo sofrimento...Os cordeis sao feitos de curiosidade que os miudos manipulam de faces atentas ao divino, procurando elevar sentimentos...Vento e redencao que nao sopra e sol e verdade que nao ilumina num crocodilo que mais uma vez devora um povo...
Foi o violino cuja flatulencia aterrorizou o J. e o fez saltar de um telhado ondulado por telhas laranja. Saltou de cabeca para baixo e aterrou como um persa, de garras vincadas no galho mais baixo da arvore antipoda da outra que nascera no deserto onde o alibaba se deleitava junto a um riacho de ouro. Tanto o paraboli...zado como o alibaba tinham algo em comum...nao serem reais!
Mas isso pouco os abalava. Enquanto criancas eram gozados pelos imberbes, alguns de cariz homunculal, outros de imaturidade exacerbada que se colava a pele e nao envelhecia e mesmo pelos adultos, cuja idade tecnica superior a 18 anos nao fazia juz aos seus comportamentos.
Gritavam-lhes nomes, tais como "ser irreal", "es uma fabula" e outros horrendos substantivos ou adjectivos que coleccionavam na parte do cerebro denominada de odiarberelo.
Se o narrador nao se identificasse com tais soberbas juvenis, dificilmente conseguiria documentar os insultos a flor da pele. Mas este, o que redige as palavras que tu agora les, era tambem um preterido social, devido ao exagerado recurso a poderes especiais que a mae natureza lhe atribuira...
A vida plagia os sentimentos da pior maneira possivel, revelando um paralelismo perfeito...e é nessa perfeição que reside a não tangência, basilar lógico da maximização da existência humana...somos nós umas pretuberâncias, curvas sujas pela vivência social, tentando contentarmo-nos com os Pareto, os second bests que a vida, a falsa plagiadora, nos oferece...
Puxo os cabelos do sol e crio novelos que são planetas...calco o universo com dedos de criança e produzo vermes intemporais que me engolem num big bang de conhecimento infinito, traçado num círculo que espiraliza até se diluir no nada...e lá, algures perdido, à procura de algo, encontro a verdadeira essência da vida...

sexta-feira, agosto 13, 2010

Ondula essa voz como a varina agita ancas, carpindo os labios, colhidos pelo latino numa pega de caras que dura uma vida em pranto...sacode essa alma, ladeada pelo xaile negro, que enviuva a guitarra portuguesa...atiça esses corações, afogados no tejo, outrora vincando estradas maritimas...

segunda-feira, julho 19, 2010

Sou eu ou tu. Sentimento é paragem numa viagem deterministica. Razão é sentido e sabedoria velocidade e eu sou tu desprovido de ambos, não envelhecendo, não vivendo o futuro, preso a um constante presente, com medo de enfrentar o passado mascarado de eterno futuro...
Repudio o corpo e os membros de ideias dentro das fonteiras da racionalidade...que hajam acordos de Schengen para os subjectivismos e que a inteligência não se centre na cabeça, mas desça ao restante corpo e termine nas unhas dos pés...

É uma mancha, essa no teu casaco que prolifera até ao braço, antebraço, onde uma peninsula de tecido se dilui em pele humana rasgada, também esta, pela fúria de uma prosa escrita em água salgada. A perna é coto que culmina em pé torto, não permitindo às palavras caminharem a bom porto. Farol é entrelinha que mantém o queixo erguido e peito é coragem de um marinheiro cujo braço ergue uma nação...

Aplausos difusos, enevoados atraves de lentes garrafais, pendurados por maos grisalhas como os panos que acolhem os actores idosos...sao lamurias que instigam a facil analogia, estirpes domesticas de esteriotipos domesticados por anos de travessias linguisticas por aguas poluidas...limpemos o planeta....comecemos pelas palavras!!!!!!
Através de uma lente, amplio um suspiro, metamorfoseando-o em grito, perdendo expressão como um pequeno fogo consumido por um dossel de fumo que me ergue ao pedestal onde o sacerdote me aguarda...é o rito do anel no dedo certo quando o errado apontou a parceira no momento indevido...beijo-lhe o coração através de lábios de cera, derretendo em ociosos laivos de sensualidade, esperando o dia da sua partida com o lenço branco, sacudido sem a paz merecida...

segunda-feira, maio 03, 2010

Hoje sou eu que, vaso partido, já não me reponho na forma original...de Lavoisier apenas sobraram memórias de teorias perdidas em determinismos lavrados entre palmas de mãos sujas de terra quente...cuspo ao vento escárnios às entidades ausentes, omnipresentes nas consequências que me calcam os ombros...fraquejo, soçobro enterrando os braços em terra húmida e colhendo a semente de uma morte anunciada a dois...
Escrevi uma carta sem letras, porque da minha caneta sairam apenas fantasmas, odios apaixonados, paixoes utopicas que voam acima da esfera do real, pesadelos que apagaram as linhas das folhas e as deixaram brancas...
E’ a minha caneta muda que chora, e e’ a folha que a abraca sem saber o porque...

Tive que limpar o cerebro com a escova da indiferenca, limar a raiva com as entrelinhas, escritas entre sorrisos cumplices que me acaloravam a pele, em dias frios, aquecidos pela palavra, abraco de todos os sons que expelia em comunhao contigo...Para me manter vivo, mantive-te comigo, de maos cheias em cima do peito, para que do meu coracao nao se esvaisse o sentimento que me roubaste...roubei-te eu uma ideia que ja nao existia, e tu partiste, partiste-me o coracao, porque so assim podias ser livre...

Colhi memorias, cheirei-as, reguei-as, acariciei-lhes as petalas e conduzi-as onde a luz se apaga, porque estas crescem melhor em noites de lua gorda...

Com o peito dilacerado pela eterna escuridao, fugindo de uma folha que exige dialogo, caminho eu, rumo ao monologo mudo, surdo e cego com as maos cheias de ramos de memorias que vao perdendo as suas petalas…

terça-feira, janeiro 05, 2010

Fosses tu flor, seria eu vaso basso camuflado em terra, meio enterrado, meio perdido, escondido da observação de nome sentimento, ilustrando a vida com balões de vozes surdas, especado à porta da memória com receio de entrar, tímido entre os meus, ignorado entre os demais, banido do horizonte pela não existência, aprisionado à minha inércia, livre apenas na morte que evita o meu olhar...
Com que forma de corpo recebes alguem que nao é ninguem para ti quando o teu proprio corpo ja nao reconheces? idade é arte que esculpe em carne, que eu desejava na arte do prazer...
Com que forma de corpo recebes o teu quando o espelho envergonhado apaga a tua imagem, como apagador de um quadro numa escola primária?

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