Conduzido por sensações parei. Parei para pensar no que sentia. Senti que parei. Deixei de sentir...

sexta-feira, setembro 17, 2004

Um minuto de silêncio em homenagem ao silêncio

Num dia de Outono de folhas douradas, a pena humida de tinta, de palavras caídas em folhas pesadas, sentiu a necessidade de se expressar, de riscar as palmas das mãos literárias e traçar novos rumos...sentiu a necessidade de esboçar novas vidas com os sentimentos estivais...

Nos dias em que tudo flui como se já existisse...como se o jogo não fosse o de criar frases mas o de descobrir as palavras, de sentidos...o jogo das escondidas...palavras perdidas entre linhas...sons pendurados em sinónimos, prontos a deixar-se cair como gotas, que incendeiam palcos verdes...prontas a florescer como flores em canteiros traçados pelas linhas das folhas outonais...

Nos dias de decifração de silêncios impregnados de mensagens, um dedo se uniu ao outro para serem dois na conversa...na conversa muda com a mesma pena que decifrou silêncios e fez florir os sons da verdade...

terça-feira, setembro 14, 2004

Sentidos in-dança

Ela acaricia leve e timidamente o chão ardente, que anseia vibrantemente pelo seu toque com as pontas doces dos seus pés...
o palco, que a abraça e a envolve, assume a febril comoção de um publico pintado de negro...
e as poucas luzes, que persistem em manter-se vivas, acotovelam-se e empurram-se para sentirem a superficie do seu corpo suave e melodioso...entretêm-se com os graciosos movimentos que este corpo compõe e perdem-se nos aromas de uma pele harmoniosa...

A música procura acompanhar os seus movimentos, demonstrando a ansiedade de um primeiro encontro, o tremor de uma primeira paixão...o platonismo de um frémito ingénuo, mas sentido...

mas ela, alheia à própria vida, desenha códigos de linguagem, mantendo os olhos cerrados...expressa com a vontade cega ideias longinquas, sem se aperceber do efeito hipnotizante dos seus passos...e dança...dança...dança como se o conceito acabasse de ser criado, inventado a cada passo por si dado...escrito no dicionário da vida, aos poucos, de forma suave mas incisiva...e dança como se as palavras de um qualquer dicionário fossem expressas em passos por ela dados...e dança escrevendo amor, absorta das letras que a compõem...

sábado, setembro 11, 2004

Despertar

Num dia brusco, esquecido pela luz, trespassado pelo momento breve e recortado da vida eu vi o veado negro no alto da colina. A lua, timidamente picotada e colada algures à moldura deste quadro, desenhava a imagem gélida de uma noite sem tempo. Desenhava o perfil congelado das imponentes hastes, que se erguiam do corpo imóvel retido pela memória.

Num dia brusco, de cenário fixamente melancolico, corrompido pela pouca luz derivada do meu pequeno quarto eu vi o veado negro que me observava. As hastes cresciam na escuridão criando-lhe o nome de luz. A melancolia ganhava veias de luz e o quadro perdia a homogeneidade limpa da sobriedade negra.

Num dia brusco, expurgado da amnésia de vida, esquecido da morte temporal, eu vi o veado ainda imóvel, ornamentado agora de luz. Observei as veias de vida saciadas de conhecimento e chamei-lhe....despertar.

quinta-feira, setembro 09, 2004

Exibes-me lâminas de paladares ornamentadas em clichés literários de amores fáceis, enquanto esperas o tacto do meu respirar aceso.
Atentas ao bifurcar das linguas que beijas em longas conversações, mantendo sempre esse teu sorriso fresco desses olhos...desses teus olhos sempre expressivos e colados ao sentimento...

E as palavras, que expiras em ansiedades pouco contidas, condecoram os ombros musicais e suspiram quadros baços, entendidos com a distância da verdade...
E, já lá ao longe, com passo curto pelo laço que une o bem e o mal, cuspo olhares furtivos de lavas frias e secas...sem o calor da proximidade da memória...sem o calor da forma distinta, perdida algures entre traços desmaiados...

Em traços lavados em sentidos ensaguentados de corações expostos em lojas de relojoeiros perdidos em tempos livres...
E a tartaruga, que nos erguia em longas veredas pela humanização, sente o peso da desilusão...o mesmo peso que os ombros condecorados acariciam sem se reberverar, como era seu costume...
E esses mesmos ombros insistem em expelir sons de musicas ciclicas em modelos facilitados pelas conclusões ficticias...pelas conclusões de uma história que nunca mostrou a mesma coragem dos olhares perdidos na palma da memória...

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