Conduzido por sensações parei. Parei para pensar no que sentia. Senti que parei. Deixei de sentir...

quinta-feira, agosto 16, 2007

Uma noite estava ela posicionada para desdizer o que havia sido dito antes. Desdisse e predisse que as palavras não proferidas seriam as saídas da minha boca...
Ruptura era aquela mão que a minha falta sentia. Olhar hoje mais não. Amanhã tampouco. Depois és tu, outra vez, sem vez por demais. Amor que salta ao eixo, fugindo de um queixo trémulo, sem carne encontrar. Platonismo é mesmo isso, compreender que os olhos comem para que a alma permaneça faminta. E mendigo sou eu, que suplica pela bússola partida.

Uma noite estava eu posicionado para repetir o que havia sido escrito antes. Ao lado o copo vazio, no outro o corpo intoxicado. Toquei acordes num instrumento de vácuo. A falsa timidez escondeu-me cada sentimento num saco. E ela lendo os meus ombros que encolhem com a indiferença, idade como primeiro nome, fugiu mantendo o corpo ali...estanque.
Exaurir é sugar o gosto de cada um, chamá-lo de insípido e perdê-lo num instante por uma eternidade. É rebaixarmo-nos, assentar desertas mãos nos joelhos nus e esperar que o amor nos calque as costas, nos vergue ao miserável nunca.

segunda-feira, agosto 13, 2007

Tão próximo. Toco-lhe. Esvai-se entre dedos rígidos. Desaparece. Reaparece cheia. Vazia de intenção. Cubro-lhe as costas de um peito de vácuo. Ao par de uma das mãos junto o ímpar do meu desejo. Desejo-o. Desejo-a. As asas quebram. Cai. Rasteja pela morte. Eleva-se num dos superlativos do estereotipo de divino. As nuvens são anjos que a choram. Eu derramo lágrimas que são anjos virgens, perdidos nos meus sentimentos. Sinto que perco. Ganho alento para perder novamente. Toco o chão como se fosse céu. Céu é chão pintado de sonho. E, por isso, durmo.

terça-feira, julho 17, 2007

Cosi a minha alma com a tua...
pontos sem cruz, trilhando os pudores da entrega
sem o remorso do tabu...
vesti-te com a minha pele encharcada no teu fulgor...
insuflando pulmões de desejo e ruborizando a lividez de uma morte anunciada...
morro eu ou tu...
mas não a relação que aceso me manteve...
Cacei a nossa sobrevivência, na ilusão que a ilusão dos outros era...
real éramos nós...
num sonho sonhado em conjunto por almas cosidas a dois...

quinta-feira, julho 05, 2007

Estou aqui sentado partido em dois ou três ou...inteiro, mas em pé parti, e sempre sentado...
deslocado, colocado mal a palavra foi proferida...em mim...
sofri nesta pele branda o som anichado em dois dos ouvidos, que em stereo chafurdaram nas minhas entranhas...
a auto estrada de sensibilidade fez-me rural, isolando-me entre florestas embrutecidas...
que abracei para amar eternamente a sobrevivência...mesmo morto...e eternamente sentado...
Cacos são bocados, que colados formam o todo...Eu, caco já não sou, porque de mim se perdeu o todo...sou o ausente frémito do espectro de uma existência a quem chamam 'eu'...
quando 'eu' sou o 'tu' ou o 'ele' desalojo-me e procuro o 'outro'...ou assumo o 'ninguém', porque o nome é maior e assenta-me melhor...e digo e repito que do menos o mal e que do pouco, esquecido no muito, se forma novamente o todo...sentado, em pé...morto...vivo...tanto faz, desde que o 'eu' se perda no 'ninguém'...

segunda-feira, junho 18, 2007

...tropeçava pela centésima vez. Esta hipérbole servia o interesse de realçar o cansaço que era levantar-se cada vez que a carcaça envelhecida, sinónimo de corpo, se prostrava no chão humedecido. A idade dele não era real. Tinha ultrapassado a sua noção de tempo de tal forma que, se lhe perguntassem o quão velho ele era, a resposta era dada em forma de reticências...
O saco de pano gasto, que o velho (chamemos-lhe assim, já que os nomes são para os géneros) arrastava, continha o seu passado, presente e, mais importante, o que restaria do seu futuro. O peso era, obviamente, heterogéneo. O passado puxava o saco para trás, o presente para baixo e o futuro...esse era leve e, se dependesse dele, ergueria o velho e transportá-lo-ia tal zepelin levado pelo vento.
Tropeçou novamente. Só que desta vez a queda assumiu contornos deintescos. Largou o saco, bateu com a cabeça e a amnésia levou-lhe o passado. O presente turvava, tal neblina, e o que se haveria de seguir não era afoito suficiente para se por a adivinhar.
Sentiu-se levar pelo vento, arrebatado tal folha velha expelida pela árvore da vida. Foi usurpado na forma, fundido no desejo.
Hoje o vento é velho e o velho é vento...

quinta-feira, junho 07, 2007

E, foi assim, que um dia parti para o nunca...
pisando cacos de uma luz apagada...
tacteando; puxando os fios suspensos num céu ausente...
com a esperança de me acender em fogo...de ser o sol, centrado em mim...
voyeur protegido das vidas de mimos gestos genealógicos, cópias perfeitas de ritos inquestionáveis...
com a esperança de atrasar a decifração de um sentimento, remetido, por carta, à exclamação erigida à sombra de uma interrogação por colorir...
E, aos números que assinalam as cores correctas, converti-os em sons...pintei bocejares aos atentos, e atenções desmedidas aos apáticos...
fechei o infantil livro da vida real e folheei o diário do morto...daquele que viveu e nunca se repetiu...
e hoje, perdido no nunca, aplaudo o ausente...único realmente presente...

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