A derradeira lágrima percorre a face gélida de uma pele absorta em entender a morte...
Doi a vontade...doem audivelmente as pálpebras que se emaranham nas pestanas e que marcam com nós a escuridão face a este mundo...
A vontade de relatar imagens do intemporal passa em fracções de segundo e multiplica-se em combinações de intenções que desenham um céu de constelações aparentemente mudas...e as crianças contemplam-nas entre lentes...entre lentes, que destacam esse mesmo olho, que um dia...que um dia, de forma ciclica, revelam o quão perene a morte é...
E a lágrima precipita-se num chão devorador de carne...de um solo que ousa dominar o esquecimento, semeando aqui e ali as lacunas da memória...
Mas o céu, impondo a sua vontade, apela à lágrima para se eternizar e ser derramada continuamente em momentos de pranto e dor...e, relendo incessantemente as mesma histórias, espera que um dia, talvez, consiga ler as linhas de vida e de morte, em que essa mesma lágrima seja derramada em momentos de felicidade e amor...
Conduzido por sensações parei. Parei para pensar no que sentia. Senti que parei. Deixei de sentir...
quinta-feira, novembro 25, 2004
segunda-feira, novembro 08, 2004
Palavras
As palavras, que escreveram a minha essência, correm hoje lá fora...
Lestas em esquivar-se dos pontos finais, continuam a deslizar nas reticências da expressão dos meus olhos...
Ultrapassam-me...
Riem-se da minha excessiva lentidão de reflexão...
Dominam os meus pensamentos...
Gozam e descrevem as minhas acções...
As palavras, que me controlam a vontade, escrevem o tempo e o espaço, reflectido no meu querer...
Criam-me o desejo, a ansiedade, o poder e o não ter...
Cosem-me a alma com a linha do sentido da vida...
com a mesma linha ténue, que sadicamente se desenha nas palmas das minhas mãos...
A mesma linha, que me recorda a finitude de uma vida e a infinitude de uma palavra...
As palavras, que escreveram a minha essência, correm hoje lá fora...
Lestas em esquivar-se dos pontos finais, continuam a deslizar nas reticências da expressão dos meus olhos...
Ultrapassam-me...
Riem-se da minha excessiva lentidão de reflexão...
Dominam os meus pensamentos...
Gozam e descrevem as minhas acções...
As palavras, que me controlam a vontade, escrevem o tempo e o espaço, reflectido no meu querer...
Criam-me o desejo, a ansiedade, o poder e o não ter...
Cosem-me a alma com a linha do sentido da vida...
com a mesma linha ténue, que sadicamente se desenha nas palmas das minhas mãos...
A mesma linha, que me recorda a finitude de uma vida e a infinitude de uma palavra...
sábado, outubro 30, 2004
Traçar futuros
Não sou mais do que a breve sombra esquecida pelo amanhã, a imagem consumida pela amálgama de indecisões presentes e o reflexo distorcido de tardes soalheiras passadas...
Se uma sombra pudesse ter a forma de uma estrela nem assim eu hesitaria em a trocar por qualquer forma disforme presenteada pelos passados luminosos cujos sorrisos nunca se mostraram preguiçosos...
Mas o presente não se esboça em estrela, o passado não ilumina a minha mente, nem o sorriso alguma vez revelou a árdua tarefa de traçar o rosto...
E, assim, num presente a recear um futuro, um passado seria sempre uma benção da memória ilusória...de uma memória encarregue de desenhar vidas iluminadas, escritas sobre palavras reais, enobrecidas pelo irreal da esperança...
segunda-feira, outubro 25, 2004
Como pintar uma tela sem tinta? como tecer um bordado sem linha? como viver sem vida???
A moldura da raça humana é o corpo fútil que apodrece...os genes da imortalidade riem-se da casca seca e ignobil que cobre o corpo inútil e revigoram no tempo em gargalhadas intemporais...
O engodo do infinito traçado em linhas de vida engana o mortal que, morrendo, conhece o lado jocoso do conhecimento...e, algures perdido em limbicos e labirinticos corredores, alguém, que não interessa quem, calca o nada, supenso no espaço limitado pela vida e pela morte...
O nada, que se entretém a escrever as memórias em tinta amnésica, lida com a razoabilidade do infinito de sentimento anestesiando-o com a simples não-existência...
E, no dia em que o alguém, que não interessa quem, evaporou e foi engolido pela nuvem mais negra do esquecimento esperado, senti-me pesado pelo remorso...e, ao mesmo tempo, leve da responsabilidade de tentar perceber....de tentar tecer um bordado, de pintar uma tela, de viver...
A moldura da raça humana é o corpo fútil que apodrece...os genes da imortalidade riem-se da casca seca e ignobil que cobre o corpo inútil e revigoram no tempo em gargalhadas intemporais...
O engodo do infinito traçado em linhas de vida engana o mortal que, morrendo, conhece o lado jocoso do conhecimento...e, algures perdido em limbicos e labirinticos corredores, alguém, que não interessa quem, calca o nada, supenso no espaço limitado pela vida e pela morte...
O nada, que se entretém a escrever as memórias em tinta amnésica, lida com a razoabilidade do infinito de sentimento anestesiando-o com a simples não-existência...
E, no dia em que o alguém, que não interessa quem, evaporou e foi engolido pela nuvem mais negra do esquecimento esperado, senti-me pesado pelo remorso...e, ao mesmo tempo, leve da responsabilidade de tentar perceber....de tentar tecer um bordado, de pintar uma tela, de viver...
quarta-feira, outubro 13, 2004
O caracol de casca metalica aparentava querer ostentar as antenas, que lhe permitiam a tal emissão dos sitcoms ingleses, que ele adorava. Passeava-se pelo campo de golfe, expelindo um ou outro grunhido seco. Erguia, com o auxilio de uma qualquer geringonça metalica, um livro aberto iluminado por uma pequena lâmpada fluorescente. Lá conseguia-se ler as seguintes palavras meio sumidas:
O baton que pinta o berro...
As palavras pesadas em balanças viciadas...
os gestos ponderados por manuais equilibrados...
E quando o castor o interrompia com as boas noites do costume, ele retorquia quase num esgar de palavras a roçar o rude, porque tinha noção que aquele castor adorava os dedos todos de conversa que lhe pudessem fornecer. E ele não tinha tempo. Tinha que finalizar o poema e posteriormente tinha o sarau da sitcom favorita. A luz intensa que a casca permitia descobrir, pelas imperfeições da liga de metal, desenhavam pequenos circulos nas poças de água exteriores. E essas poças, por vezes, quando o caracol parava para conceder toda a sua atenção à sua pequena televisão eram autênticas telas que atraiam os vários animais que viviam nas copas das árvores limitrofes. Esquilos, pardais e outros pequenos seres juntavam-se, abraçando-se uns aos outros em noites frias, e assistiam aos mesmos programas que o velho caracol.
O caracol vivia no caule do malmequer número 34, 3ºandar. Aliás, o facto de ter sido um dos primeiros a ocupar o malmequer permitiu-lhe ter acesso ao 3 andar por inteiro. Este malmequer era diferente de todos os restantes malmequeres do jardim. Isto porque crescia haviam 50 anos sem cessar. Todos os anos algum cientista vinha a correr com mais uma teoria esboçada em papeis soltos e sujos de café e gritava esbaforido: posso finalmente provar cientificamente que este é o último ano em que vamos assistir ao crescimento físico deste malmequer. Mas todos os anos o malmequer voltava a enganar a ciência limitada destes seres.
O caracol, cujo nome era Abdul devido ao facto de ser descendente de caracois muçulmanos, aproximava-se lentamente do malmequer. Pretendia ver o episódio 24 de Seinfeld no conforto da sua casa. Muitos questionavam-lhe (incluindo o próprio leitor) o facto de este precisar realmente de uma segunda casa, já que parecia óbvio que quem tem uma carapaça como a que ele ostantava podia bem sobreviver sem a casa do malmequer. Ele detestava responder a esta questão até porque a única explicação associada a isso tinha a ver com o desvendar do seu hobby preferido e ele não era de se abrir e muito menos com leitores estranhos. A verdade é que este era um poeta. Não um poeta famoso. Um poeta que escrevia sobretudo pelo prazer de escrever. De si para si.
Abdul, para facilitar a coisa, subia já o caule de forma lenta causando arrepios de impaciência a qualquer minhoca que se cruzava por ele.
Alguns piolhos da fruta ainda jovens aproveitavam o rasto de nhanha deixado pelo nosso Abdul para deslizarem. Entretinham-se a fazerem provas de quem conseguia percorrer a maior distância com um único impulso. Outros aproveitavam o declive acentuado do caule para deslizarem até à raíz. Era uma espécie de cauleboard em que os mais talentosos conquistavam a atenção das piolhas.
A porta pintada de castanho seco abria-se e uma luz intensa amarelada descobria um espaço acolhedor. Abdul entrou. As paredes estavam forradas de alguns poemas que este se entretinha a catalogar com datas e titulos nem sempre muito aproximados ao conteúdo.
O baton que pinta o berro...
As palavras pesadas em balanças viciadas...
os gestos ponderados por manuais equilibrados...
E quando o castor o interrompia com as boas noites do costume, ele retorquia quase num esgar de palavras a roçar o rude, porque tinha noção que aquele castor adorava os dedos todos de conversa que lhe pudessem fornecer. E ele não tinha tempo. Tinha que finalizar o poema e posteriormente tinha o sarau da sitcom favorita. A luz intensa que a casca permitia descobrir, pelas imperfeições da liga de metal, desenhavam pequenos circulos nas poças de água exteriores. E essas poças, por vezes, quando o caracol parava para conceder toda a sua atenção à sua pequena televisão eram autênticas telas que atraiam os vários animais que viviam nas copas das árvores limitrofes. Esquilos, pardais e outros pequenos seres juntavam-se, abraçando-se uns aos outros em noites frias, e assistiam aos mesmos programas que o velho caracol.
O caracol vivia no caule do malmequer número 34, 3ºandar. Aliás, o facto de ter sido um dos primeiros a ocupar o malmequer permitiu-lhe ter acesso ao 3 andar por inteiro. Este malmequer era diferente de todos os restantes malmequeres do jardim. Isto porque crescia haviam 50 anos sem cessar. Todos os anos algum cientista vinha a correr com mais uma teoria esboçada em papeis soltos e sujos de café e gritava esbaforido: posso finalmente provar cientificamente que este é o último ano em que vamos assistir ao crescimento físico deste malmequer. Mas todos os anos o malmequer voltava a enganar a ciência limitada destes seres.
O caracol, cujo nome era Abdul devido ao facto de ser descendente de caracois muçulmanos, aproximava-se lentamente do malmequer. Pretendia ver o episódio 24 de Seinfeld no conforto da sua casa. Muitos questionavam-lhe (incluindo o próprio leitor) o facto de este precisar realmente de uma segunda casa, já que parecia óbvio que quem tem uma carapaça como a que ele ostantava podia bem sobreviver sem a casa do malmequer. Ele detestava responder a esta questão até porque a única explicação associada a isso tinha a ver com o desvendar do seu hobby preferido e ele não era de se abrir e muito menos com leitores estranhos. A verdade é que este era um poeta. Não um poeta famoso. Um poeta que escrevia sobretudo pelo prazer de escrever. De si para si.
Abdul, para facilitar a coisa, subia já o caule de forma lenta causando arrepios de impaciência a qualquer minhoca que se cruzava por ele.
Alguns piolhos da fruta ainda jovens aproveitavam o rasto de nhanha deixado pelo nosso Abdul para deslizarem. Entretinham-se a fazerem provas de quem conseguia percorrer a maior distância com um único impulso. Outros aproveitavam o declive acentuado do caule para deslizarem até à raíz. Era uma espécie de cauleboard em que os mais talentosos conquistavam a atenção das piolhas.
A porta pintada de castanho seco abria-se e uma luz intensa amarelada descobria um espaço acolhedor. Abdul entrou. As paredes estavam forradas de alguns poemas que este se entretinha a catalogar com datas e titulos nem sempre muito aproximados ao conteúdo.
sexta-feira, setembro 17, 2004
Um minuto de silêncio em homenagem ao silêncio
Num dia de Outono de folhas douradas, a pena humida de tinta, de palavras caídas em folhas pesadas, sentiu a necessidade de se expressar, de riscar as palmas das mãos literárias e traçar novos rumos...sentiu a necessidade de esboçar novas vidas com os sentimentos estivais...
Nos dias em que tudo flui como se já existisse...como se o jogo não fosse o de criar frases mas o de descobrir as palavras, de sentidos...o jogo das escondidas...palavras perdidas entre linhas...sons pendurados em sinónimos, prontos a deixar-se cair como gotas, que incendeiam palcos verdes...prontas a florescer como flores em canteiros traçados pelas linhas das folhas outonais...
Nos dias de decifração de silêncios impregnados de mensagens, um dedo se uniu ao outro para serem dois na conversa...na conversa muda com a mesma pena que decifrou silêncios e fez florir os sons da verdade...
Num dia de Outono de folhas douradas, a pena humida de tinta, de palavras caídas em folhas pesadas, sentiu a necessidade de se expressar, de riscar as palmas das mãos literárias e traçar novos rumos...sentiu a necessidade de esboçar novas vidas com os sentimentos estivais...
Nos dias em que tudo flui como se já existisse...como se o jogo não fosse o de criar frases mas o de descobrir as palavras, de sentidos...o jogo das escondidas...palavras perdidas entre linhas...sons pendurados em sinónimos, prontos a deixar-se cair como gotas, que incendeiam palcos verdes...prontas a florescer como flores em canteiros traçados pelas linhas das folhas outonais...
Nos dias de decifração de silêncios impregnados de mensagens, um dedo se uniu ao outro para serem dois na conversa...na conversa muda com a mesma pena que decifrou silêncios e fez florir os sons da verdade...
terça-feira, setembro 14, 2004
Sentidos in-dança
Ela acaricia leve e timidamente o chão ardente, que anseia vibrantemente pelo seu toque com as pontas doces dos seus pés...
o palco, que a abraça e a envolve, assume a febril comoção de um publico pintado de negro...
e as poucas luzes, que persistem em manter-se vivas, acotovelam-se e empurram-se para sentirem a superficie do seu corpo suave e melodioso...entretêm-se com os graciosos movimentos que este corpo compõe e perdem-se nos aromas de uma pele harmoniosa...
A música procura acompanhar os seus movimentos, demonstrando a ansiedade de um primeiro encontro, o tremor de uma primeira paixão...o platonismo de um frémito ingénuo, mas sentido...
mas ela, alheia à própria vida, desenha códigos de linguagem, mantendo os olhos cerrados...expressa com a vontade cega ideias longinquas, sem se aperceber do efeito hipnotizante dos seus passos...e dança...dança...dança como se o conceito acabasse de ser criado, inventado a cada passo por si dado...escrito no dicionário da vida, aos poucos, de forma suave mas incisiva...e dança como se as palavras de um qualquer dicionário fossem expressas em passos por ela dados...e dança escrevendo amor, absorta das letras que a compõem...
Ela acaricia leve e timidamente o chão ardente, que anseia vibrantemente pelo seu toque com as pontas doces dos seus pés...
o palco, que a abraça e a envolve, assume a febril comoção de um publico pintado de negro...
e as poucas luzes, que persistem em manter-se vivas, acotovelam-se e empurram-se para sentirem a superficie do seu corpo suave e melodioso...entretêm-se com os graciosos movimentos que este corpo compõe e perdem-se nos aromas de uma pele harmoniosa...
A música procura acompanhar os seus movimentos, demonstrando a ansiedade de um primeiro encontro, o tremor de uma primeira paixão...o platonismo de um frémito ingénuo, mas sentido...
mas ela, alheia à própria vida, desenha códigos de linguagem, mantendo os olhos cerrados...expressa com a vontade cega ideias longinquas, sem se aperceber do efeito hipnotizante dos seus passos...e dança...dança...dança como se o conceito acabasse de ser criado, inventado a cada passo por si dado...escrito no dicionário da vida, aos poucos, de forma suave mas incisiva...e dança como se as palavras de um qualquer dicionário fossem expressas em passos por ela dados...e dança escrevendo amor, absorta das letras que a compõem...
sábado, setembro 11, 2004
Despertar
Num dia brusco, esquecido pela luz, trespassado pelo momento breve e recortado da vida eu vi o veado negro no alto da colina. A lua, timidamente picotada e colada algures à moldura deste quadro, desenhava a imagem gélida de uma noite sem tempo. Desenhava o perfil congelado das imponentes hastes, que se erguiam do corpo imóvel retido pela memória.
Num dia brusco, de cenário fixamente melancolico, corrompido pela pouca luz derivada do meu pequeno quarto eu vi o veado negro que me observava. As hastes cresciam na escuridão criando-lhe o nome de luz. A melancolia ganhava veias de luz e o quadro perdia a homogeneidade limpa da sobriedade negra.
Num dia brusco, expurgado da amnésia de vida, esquecido da morte temporal, eu vi o veado ainda imóvel, ornamentado agora de luz. Observei as veias de vida saciadas de conhecimento e chamei-lhe....despertar.
Num dia brusco, esquecido pela luz, trespassado pelo momento breve e recortado da vida eu vi o veado negro no alto da colina. A lua, timidamente picotada e colada algures à moldura deste quadro, desenhava a imagem gélida de uma noite sem tempo. Desenhava o perfil congelado das imponentes hastes, que se erguiam do corpo imóvel retido pela memória.
Num dia brusco, de cenário fixamente melancolico, corrompido pela pouca luz derivada do meu pequeno quarto eu vi o veado negro que me observava. As hastes cresciam na escuridão criando-lhe o nome de luz. A melancolia ganhava veias de luz e o quadro perdia a homogeneidade limpa da sobriedade negra.
Num dia brusco, expurgado da amnésia de vida, esquecido da morte temporal, eu vi o veado ainda imóvel, ornamentado agora de luz. Observei as veias de vida saciadas de conhecimento e chamei-lhe....despertar.
quinta-feira, setembro 09, 2004
Exibes-me lâminas de paladares ornamentadas em clichés literários de amores fáceis, enquanto esperas o tacto do meu respirar aceso.
Atentas ao bifurcar das linguas que beijas em longas conversações, mantendo sempre esse teu sorriso fresco desses olhos...desses teus olhos sempre expressivos e colados ao sentimento...
E as palavras, que expiras em ansiedades pouco contidas, condecoram os ombros musicais e suspiram quadros baços, entendidos com a distância da verdade...
E, já lá ao longe, com passo curto pelo laço que une o bem e o mal, cuspo olhares furtivos de lavas frias e secas...sem o calor da proximidade da memória...sem o calor da forma distinta, perdida algures entre traços desmaiados...
Em traços lavados em sentidos ensaguentados de corações expostos em lojas de relojoeiros perdidos em tempos livres...
E a tartaruga, que nos erguia em longas veredas pela humanização, sente o peso da desilusão...o mesmo peso que os ombros condecorados acariciam sem se reberverar, como era seu costume...
E esses mesmos ombros insistem em expelir sons de musicas ciclicas em modelos facilitados pelas conclusões ficticias...pelas conclusões de uma história que nunca mostrou a mesma coragem dos olhares perdidos na palma da memória...
Atentas ao bifurcar das linguas que beijas em longas conversações, mantendo sempre esse teu sorriso fresco desses olhos...desses teus olhos sempre expressivos e colados ao sentimento...
E as palavras, que expiras em ansiedades pouco contidas, condecoram os ombros musicais e suspiram quadros baços, entendidos com a distância da verdade...
E, já lá ao longe, com passo curto pelo laço que une o bem e o mal, cuspo olhares furtivos de lavas frias e secas...sem o calor da proximidade da memória...sem o calor da forma distinta, perdida algures entre traços desmaiados...
Em traços lavados em sentidos ensaguentados de corações expostos em lojas de relojoeiros perdidos em tempos livres...
E a tartaruga, que nos erguia em longas veredas pela humanização, sente o peso da desilusão...o mesmo peso que os ombros condecorados acariciam sem se reberverar, como era seu costume...
E esses mesmos ombros insistem em expelir sons de musicas ciclicas em modelos facilitados pelas conclusões ficticias...pelas conclusões de uma história que nunca mostrou a mesma coragem dos olhares perdidos na palma da memória...
quinta-feira, agosto 12, 2004
Fim de um inicio
Dois relogios cumprimentam-se entre tique e taques, sacodindo ponteiros de segundos, que correm ritmados como a vida de duas gotas, que se precipitam do alpendre velho para uma gravidade apuradamente cruel...
E a morte sopra a vida, vista pela transparência de uma costela, que gerou uma humanidade....
Um ponteiro gerou uma história, e um sentimento um corropio de vida e morte congelado no relógio, que ainda cumprimenta o outro...
O tempo passeia o espaço, dando-lhe as cores da evolução...o infinito embala o tempo, dando-lhe um espaço para se retratar...E a humanidade procura a costela, a genesis de um tempo num espaço há muito perdido...perdido algures na queda de duas gotas esquecidas...
Dois relogios cumprimentam-se entre tique e taques, sacodindo ponteiros de segundos, que correm ritmados como a vida de duas gotas, que se precipitam do alpendre velho para uma gravidade apuradamente cruel...
E a morte sopra a vida, vista pela transparência de uma costela, que gerou uma humanidade....
Um ponteiro gerou uma história, e um sentimento um corropio de vida e morte congelado no relógio, que ainda cumprimenta o outro...
O tempo passeia o espaço, dando-lhe as cores da evolução...o infinito embala o tempo, dando-lhe um espaço para se retratar...E a humanidade procura a costela, a genesis de um tempo num espaço há muito perdido...perdido algures na queda de duas gotas esquecidas...
sexta-feira, junho 04, 2004
Confronto
O cão, animado com o seu próprio som, uivava elegias proféticas sobre ossos enterrados...
Uivava de alegria, de ventre peludo, robusto e orgulhoso da caça feliz de dias de labuta recompensadas. De quando em vez, sacodia os toscos pelos com a desajeitada encardida pata...
Os troféus, esses, levava-os ainda visiveis no focinho, suculentemente ornamentado...
A lingua saciada cambaleava entre dentes e a parte do focinho ainda recheado da mescla de terra ardente e de comida teimosa em ser digerida...
O bafo quente contrastava com o frio da noite e desenhava humidade no ar. A lua era o abajur perfeito que condensava e vibrava a luz da lâmpada, que o corpo hirto do cão iluminado exalava...a noite era a serva de um mestre altivo e seguro...um mestre indiferente às ameaças do mundo hostil que o rodeava...
Entre uivos, lambidelas e estouvados orgulhos os passos pesados e descuidados da criatura, que se aproximava, foram descuidadamente ignorados pelo mestre da luz...
Em poucos segundos a proximidade tornou-se demasiada para não ser reparada...o incauto cão pouco tinha a fazer para reparar a sua frágil percepção...os dentes da criatura assumiam o grotesco e ela a qualidade de monstro...o seu rosnar calava a noite...a sua furia escurecia a lua...os seus olhos faziam esquecer o orgulho...
Quase sem pensar correu...fugiu sem escolher direcção...e enquanto fugia mantinha na retina o rosto demoniaco da criatura...os olhos de fogo, as patas de chumbo, os dentes de morte...e, mesmo assim, aos poucos e poucos crescia dentro dele o sentimento que podia enfrentar esse monstro, se tal fosse necessário...podia simplesmente parar, virar-se, e mostrar que a sua presença também inspirava temor...mas não...ele corria mais rápido...era mais lesto a movimentar-se...e por isso não hesitava em correr e em evitar o confronto...
E fugia, ganhando distância...fugia ganhando confiança....fugia a pensar se conseguiria debater-se com tal criatura...e entre cipestres queimados, por cima de folhas derretidas em fogo, debaixo de um céu vermelho de sangue deu de caras com uma outra criatura...em tudo semelhante à que ainda a perseguia...em tudo semelhante mas mais tenebrosa, mais vil, mais demoniaca e mais rapida e lesta a movimentar-se...
O pânico afogou-o de tal forma que mal conseguia respirar...parou...congelou...olhou para trás onde a criatura, que o seguia, perdia o estatuto de monstro e assumia o estatuto de antiga esperança...
Essa mesma criatura parava também...hesitava, atenta à reacção do cão...cercado...
O actual monstro sorria e aproximava-se lentamente, demonstrando confiança...e o cão pensava no que fazer....e, arrependido de anteriores decisões, sentou-se e esperou...
O cão, animado com o seu próprio som, uivava elegias proféticas sobre ossos enterrados...
Uivava de alegria, de ventre peludo, robusto e orgulhoso da caça feliz de dias de labuta recompensadas. De quando em vez, sacodia os toscos pelos com a desajeitada encardida pata...
Os troféus, esses, levava-os ainda visiveis no focinho, suculentemente ornamentado...
A lingua saciada cambaleava entre dentes e a parte do focinho ainda recheado da mescla de terra ardente e de comida teimosa em ser digerida...
O bafo quente contrastava com o frio da noite e desenhava humidade no ar. A lua era o abajur perfeito que condensava e vibrava a luz da lâmpada, que o corpo hirto do cão iluminado exalava...a noite era a serva de um mestre altivo e seguro...um mestre indiferente às ameaças do mundo hostil que o rodeava...
Entre uivos, lambidelas e estouvados orgulhos os passos pesados e descuidados da criatura, que se aproximava, foram descuidadamente ignorados pelo mestre da luz...
Em poucos segundos a proximidade tornou-se demasiada para não ser reparada...o incauto cão pouco tinha a fazer para reparar a sua frágil percepção...os dentes da criatura assumiam o grotesco e ela a qualidade de monstro...o seu rosnar calava a noite...a sua furia escurecia a lua...os seus olhos faziam esquecer o orgulho...
Quase sem pensar correu...fugiu sem escolher direcção...e enquanto fugia mantinha na retina o rosto demoniaco da criatura...os olhos de fogo, as patas de chumbo, os dentes de morte...e, mesmo assim, aos poucos e poucos crescia dentro dele o sentimento que podia enfrentar esse monstro, se tal fosse necessário...podia simplesmente parar, virar-se, e mostrar que a sua presença também inspirava temor...mas não...ele corria mais rápido...era mais lesto a movimentar-se...e por isso não hesitava em correr e em evitar o confronto...
E fugia, ganhando distância...fugia ganhando confiança....fugia a pensar se conseguiria debater-se com tal criatura...e entre cipestres queimados, por cima de folhas derretidas em fogo, debaixo de um céu vermelho de sangue deu de caras com uma outra criatura...em tudo semelhante à que ainda a perseguia...em tudo semelhante mas mais tenebrosa, mais vil, mais demoniaca e mais rapida e lesta a movimentar-se...
O pânico afogou-o de tal forma que mal conseguia respirar...parou...congelou...olhou para trás onde a criatura, que o seguia, perdia o estatuto de monstro e assumia o estatuto de antiga esperança...
Essa mesma criatura parava também...hesitava, atenta à reacção do cão...cercado...
O actual monstro sorria e aproximava-se lentamente, demonstrando confiança...e o cão pensava no que fazer....e, arrependido de anteriores decisões, sentou-se e esperou...
segunda-feira, maio 24, 2004
O conto do pêlo tresmalhado e do velho orgulhoso
O bigode, caiado de branco, de quando em quando, era penteado pelo pente atento. Os pêlos tresmalhados eram calma e organizadamente domados, segundo a vontade do seu mestre. Este mais não era do que um velho orgulhoso, que passeava e exibia o seu farto bigode aos demais velhos, de devaneios capilares timidamente demonstrados. Um certo dia, ou incerto porque não consta data, enquanto o pente se passeava ditatorialmente sobre os pêlos vergados pela soberania deste, eis que o titulo do conto ganhou alento...
O pêlo, de seu nome capilar, ausentou-se das suas funções de vassalagem e de voz grossa, como se este a tivesse, gritou bem alto o grito pintado por Munch e expelido em ipiranga. E gritou, pela recusa de aceitação de posição das massas, pela recusa ao conformismo, pela recusa ao trabalho não assalariado. O velho, excusando-se a ouvir, continuando a bulir e surdo no sentir, arranhava os pêlos doridos pela recusa. Os pêlos doridos, mas atentos ao colega capilar, entre receio e orgulho hesitavam em que decisão tomar...
Lentamente se eriçaram também, lentamente passaram palavra aos demais, lentamente contagiaram as vontades dos que ainda se escondiam entre os sulcos lavados da face velha do velho teimoso: os da guerrilha já quase esquecida. E, de todos os sulcos e de todos as reentrâncias, um movimento sem precedentes emergiu. A batalha dos pêlos pelo territorio perdido...
O velho, que já não sentia a pele nua, que havia sido invadida pelos pêlos lutadores, esbaforidamente quebrava as portas e corria para o exterior, mas a luz já não via, os olhares de admiração dos outros velhos já não os sentia, e nem gritar podia. Perdido, algures no chão molhado da chuva, que entretanto caía, começou a chorar. Cada lágrima abria espaço entre os pêlos, traçava um caminho, como os pioneiros haviam traçado caminhos rumo às suas futuras terras, e aí ele entendeu. E sorriu, entre os rios fluentes de lágrimas, que lhe desenhavam os contornos da face feliz.
O bigode, caiado de branco, de quando em quando, era penteado pelo pente atento. Os pêlos tresmalhados eram calma e organizadamente domados, segundo a vontade do seu mestre. Este mais não era do que um velho orgulhoso, que passeava e exibia o seu farto bigode aos demais velhos, de devaneios capilares timidamente demonstrados. Um certo dia, ou incerto porque não consta data, enquanto o pente se passeava ditatorialmente sobre os pêlos vergados pela soberania deste, eis que o titulo do conto ganhou alento...
O pêlo, de seu nome capilar, ausentou-se das suas funções de vassalagem e de voz grossa, como se este a tivesse, gritou bem alto o grito pintado por Munch e expelido em ipiranga. E gritou, pela recusa de aceitação de posição das massas, pela recusa ao conformismo, pela recusa ao trabalho não assalariado. O velho, excusando-se a ouvir, continuando a bulir e surdo no sentir, arranhava os pêlos doridos pela recusa. Os pêlos doridos, mas atentos ao colega capilar, entre receio e orgulho hesitavam em que decisão tomar...
Lentamente se eriçaram também, lentamente passaram palavra aos demais, lentamente contagiaram as vontades dos que ainda se escondiam entre os sulcos lavados da face velha do velho teimoso: os da guerrilha já quase esquecida. E, de todos os sulcos e de todos as reentrâncias, um movimento sem precedentes emergiu. A batalha dos pêlos pelo territorio perdido...
O velho, que já não sentia a pele nua, que havia sido invadida pelos pêlos lutadores, esbaforidamente quebrava as portas e corria para o exterior, mas a luz já não via, os olhares de admiração dos outros velhos já não os sentia, e nem gritar podia. Perdido, algures no chão molhado da chuva, que entretanto caía, começou a chorar. Cada lágrima abria espaço entre os pêlos, traçava um caminho, como os pioneiros haviam traçado caminhos rumo às suas futuras terras, e aí ele entendeu. E sorriu, entre os rios fluentes de lágrimas, que lhe desenhavam os contornos da face feliz.
domingo, maio 23, 2004
Sabores
Entre novidades perdidas, no prato sujo e fundo, os talheres da descoberta perscrutavam as ideias...
procuravam sabores ocultos, entre verdades relatadas pelas velhas mãos de cozinheiros sábios...
Remexiam segredos nunca saboreados, remexiam aromas ocultos, remexiam paladares exoticamente fabricados...
Entre novidades perdidas, no prato sujo e fundo, os talheres da descoberta elevavam ideias, tornando-as reais com o simples toque...
Tornavam-nas reais com o toque da lingua, outrora muda, agora fluente em desvendar os segredos passados pelas velhas mãos...
e os segredos do ontém, desfeitos no hoje, ganhavam a esperança do amanhã...
ganhavam o alento de que as descobertas mais não fizeram do que traçar novas rotas, novos caminhos por percorrer...
Entre novidades perdidas, no prato sujo e fundo, os talheres da descoberta continuavam com a forma do ponto de interrogação, agora mais colorida e mais luminosa...mas sempre na eterna descoberta de novos sabores...
Entre novidades perdidas, no prato sujo e fundo, os talheres da descoberta perscrutavam as ideias...
procuravam sabores ocultos, entre verdades relatadas pelas velhas mãos de cozinheiros sábios...
Remexiam segredos nunca saboreados, remexiam aromas ocultos, remexiam paladares exoticamente fabricados...
Entre novidades perdidas, no prato sujo e fundo, os talheres da descoberta elevavam ideias, tornando-as reais com o simples toque...
Tornavam-nas reais com o toque da lingua, outrora muda, agora fluente em desvendar os segredos passados pelas velhas mãos...
e os segredos do ontém, desfeitos no hoje, ganhavam a esperança do amanhã...
ganhavam o alento de que as descobertas mais não fizeram do que traçar novas rotas, novos caminhos por percorrer...
Entre novidades perdidas, no prato sujo e fundo, os talheres da descoberta continuavam com a forma do ponto de interrogação, agora mais colorida e mais luminosa...mas sempre na eterna descoberta de novos sabores...
domingo, maio 16, 2004
Atacadores
Mãos singelas giram delicadamente os atacadoes soltos, dos sapatos sujos, do pequeno rapaz...
Olhos trôpegos brilham de alegria esquecida, e atentam aos movimentos dos dedos que, carinhosamente, manuseiam os atacadores...
Imagens saudosas dificultam os olhos húmidos de tecer laços firmes...desenham histórias passadas em atacadores apertados...tecem memórias em nós dados...
Um sorriso esboça-se, por entre duas lágrimas frias, que traçam os contornos de uma face desenhada com sofrimento, lívida de amor...Um sorriso, que se transforma rapidamente em temor...e um soluçar, que revela um forte ardor...
O rapaz observa-a...admirado...confuso com a sua reacção...
Atento à voz da sua mãe, que o chama ao longe, corre na sua direcção...
Corre, olhando a mulher, uma última vez...
Ela, de joelhos, olha os seus dedos...os dedos de mãos singelas...de mãos, que antes apertavam os atacadores soltos de outros sapatos sujos...de outros sapatos sujos que não desenham mais memórias...
Mãos singelas giram delicadamente os atacadoes soltos, dos sapatos sujos, do pequeno rapaz...
Olhos trôpegos brilham de alegria esquecida, e atentam aos movimentos dos dedos que, carinhosamente, manuseiam os atacadores...
Imagens saudosas dificultam os olhos húmidos de tecer laços firmes...desenham histórias passadas em atacadores apertados...tecem memórias em nós dados...
Um sorriso esboça-se, por entre duas lágrimas frias, que traçam os contornos de uma face desenhada com sofrimento, lívida de amor...Um sorriso, que se transforma rapidamente em temor...e um soluçar, que revela um forte ardor...
O rapaz observa-a...admirado...confuso com a sua reacção...
Atento à voz da sua mãe, que o chama ao longe, corre na sua direcção...
Corre, olhando a mulher, uma última vez...
Ela, de joelhos, olha os seus dedos...os dedos de mãos singelas...de mãos, que antes apertavam os atacadores soltos de outros sapatos sujos...de outros sapatos sujos que não desenham mais memórias...
quarta-feira, abril 28, 2004
Nudez
Encolho-me perante bramidos sentidos, provindos de alguém que me conhece as entranhas...
a medo me escondo, com olhos brilhantes, de quem ousa ser encontrado por entre arbustos derretidos na escuridão...
através de um simples olhar, com olhos em chamas...de quem arde por dentro, expelindo e contagiando com o seu calor...
de quem tenta aquecer um ou outro sentimento...aqui e ali...
fecho imagens em mentes insanes e esqueço limites e barreiras finitas...
fecho imagens com folhos de cores inúteis que me desviam o olhar fútil...
fecho imagens e choro por me deixar levar...mais uma vez...por simples distrações sem alma...
desenho pequenos fôlegos nessas cores, como que para lhes dar profundidade e copio o teu retrato em folhos inúteis com estrelas de pequenos beijos teus e sopro finalmente por entre riscos e rabiscos de alma pura...
vejo a vida que se eleva sobre mim...desvendando mais sentimentos...e coro porque me sinto nu em mim...
nu face a ti...e o receio apodera-se do meu corpo que se remete ao pensamento de que talvez um dia me sinta confortável assim...
assim nu em mim para ti...
Encolho-me perante bramidos sentidos, provindos de alguém que me conhece as entranhas...
a medo me escondo, com olhos brilhantes, de quem ousa ser encontrado por entre arbustos derretidos na escuridão...
através de um simples olhar, com olhos em chamas...de quem arde por dentro, expelindo e contagiando com o seu calor...
de quem tenta aquecer um ou outro sentimento...aqui e ali...
fecho imagens em mentes insanes e esqueço limites e barreiras finitas...
fecho imagens com folhos de cores inúteis que me desviam o olhar fútil...
fecho imagens e choro por me deixar levar...mais uma vez...por simples distrações sem alma...
desenho pequenos fôlegos nessas cores, como que para lhes dar profundidade e copio o teu retrato em folhos inúteis com estrelas de pequenos beijos teus e sopro finalmente por entre riscos e rabiscos de alma pura...
vejo a vida que se eleva sobre mim...desvendando mais sentimentos...e coro porque me sinto nu em mim...
nu face a ti...e o receio apodera-se do meu corpo que se remete ao pensamento de que talvez um dia me sinta confortável assim...
assim nu em mim para ti...
quarta-feira, abril 14, 2004
Cipestres em chamas
caminho, cambaleando por entre ciprestes em chamas...
toco as folhas em cinzas, que asfixiam a vida, que cobrem o chão...
estas dissolvem-se e pintam destinos negros na pele seca da palma da minha mão...
observo o negrume que se esboça também nos meus olhos...observo a morte que asfixia e pinta o chão que piso...
e, enquanto me perco na minha perdição, ouço-a...ouço-a sem a compreender...abraçando as árvores, que ardem, sem ela o compreender...
vejo-a entre chamas...com olhos que sorriem...olhos de esperança...olhos que brincam com as mãos sujas, que entretanto ergo para a tocar...e desconhecendo os seus destinos e designios sigo-a...
caminhamos de mãos dadas...desconfortáveis com o amor...inseguros com a perene sensação que os sentimentos assumem...mas mesmo assim felizes com o breve momento... felizes com a sensação de que a felicidade pode existir...mesmo que ardendo algures entre os cipestres...
caminho, cambaleando por entre ciprestes em chamas...
toco as folhas em cinzas, que asfixiam a vida, que cobrem o chão...
estas dissolvem-se e pintam destinos negros na pele seca da palma da minha mão...
observo o negrume que se esboça também nos meus olhos...observo a morte que asfixia e pinta o chão que piso...
e, enquanto me perco na minha perdição, ouço-a...ouço-a sem a compreender...abraçando as árvores, que ardem, sem ela o compreender...
vejo-a entre chamas...com olhos que sorriem...olhos de esperança...olhos que brincam com as mãos sujas, que entretanto ergo para a tocar...e desconhecendo os seus destinos e designios sigo-a...
caminhamos de mãos dadas...desconfortáveis com o amor...inseguros com a perene sensação que os sentimentos assumem...mas mesmo assim felizes com o breve momento... felizes com a sensação de que a felicidade pode existir...mesmo que ardendo algures entre os cipestres...
sexta-feira, abril 09, 2004
Telas
alegres sons que provêm do silêncio das telas mudas que cantam...
que enchem a vida de cor...
crianças pintam, com as mãos coloridas...com as impressoes de quem calca a alma de uns, com os sentimentos perdidos de outros...
encontrados por vagabundos felizes, que se encontram a si proprios nas telas...
de crianças que continuam atentas...a pintar uma vida e outra...e outra...e talvez a minha e a tua...
alegres sons que provêm do silêncio das telas mudas que cantam...
que enchem a vida de cor...
crianças pintam, com as mãos coloridas...com as impressoes de quem calca a alma de uns, com os sentimentos perdidos de outros...
encontrados por vagabundos felizes, que se encontram a si proprios nas telas...
de crianças que continuam atentas...a pintar uma vida e outra...e outra...e talvez a minha e a tua...
quinta-feira, fevereiro 12, 2004
arregaço a pele e descubro um coração oco...que ecoa solidão por entre gemidos de dor em luto...
que revela constelações de esperança...pequenas partículas de desejo, ainda latente...
olho-te sem olhos...com o simples reflexo do amor...e desprendo os elásticos da emoção que te prendem a mim...que te puxam aos poucos...por entre sorrisos mudos...por entre premonições de paz...
e, com a chave da comunhão, giro delicadamente a fechadura da entrega...giro e abro o teu coração...
e leio palavras do antes e do depois, porque as do durante são escritas pela pena húmida da paixão...
e as letras que trocamos...as palavras, que expelimos com a simples vivência a dois, são guardadas num cofre sempre aberto, cuja chave reside na união...na união do sentimento.
que revela constelações de esperança...pequenas partículas de desejo, ainda latente...
olho-te sem olhos...com o simples reflexo do amor...e desprendo os elásticos da emoção que te prendem a mim...que te puxam aos poucos...por entre sorrisos mudos...por entre premonições de paz...
e, com a chave da comunhão, giro delicadamente a fechadura da entrega...giro e abro o teu coração...
e leio palavras do antes e do depois, porque as do durante são escritas pela pena húmida da paixão...
e as letras que trocamos...as palavras, que expelimos com a simples vivência a dois, são guardadas num cofre sempre aberto, cuja chave reside na união...na união do sentimento.
Segredos
Rumores de vozes entrincheirados na memória...
algures onde o velho segredo caminha, ainda lesto, por entre familiares tabus...
marcha, pé ante pé, lesto mas cuidadoso, evitando olhares reprovadores por acções nunca levadas a cabo...por acções sentidas intensamente...
O velho, o que procura as vozes, o que arrisca olhares, o que esquece a idade e o tempo, suspira pela continuidade da sua existência...
suspira pelo coração fraco que bate...que persiste em bater ao ritmo de uma paixão não esquecida...não negligenciada pelo olhar, ainda aceso com a chama do sentimento...
O velho, que definha e morre aos poucos, sorri o sorriso do segredo ao segredo que se esvai em morte pela vida...e os tabus, os que enchem a memória de cinzas, cultivam a decepção...cultivam a apatia...cultivam a resignação e rejubilam em dor por um amor esquecido...
Rumores de vozes entrincheirados na memória...
algures onde o velho segredo caminha, ainda lesto, por entre familiares tabus...
marcha, pé ante pé, lesto mas cuidadoso, evitando olhares reprovadores por acções nunca levadas a cabo...por acções sentidas intensamente...
O velho, o que procura as vozes, o que arrisca olhares, o que esquece a idade e o tempo, suspira pela continuidade da sua existência...
suspira pelo coração fraco que bate...que persiste em bater ao ritmo de uma paixão não esquecida...não negligenciada pelo olhar, ainda aceso com a chama do sentimento...
O velho, que definha e morre aos poucos, sorri o sorriso do segredo ao segredo que se esvai em morte pela vida...e os tabus, os que enchem a memória de cinzas, cultivam a decepção...cultivam a apatia...cultivam a resignação e rejubilam em dor por um amor esquecido...
quinta-feira, fevereiro 05, 2004
Morte
seguro os véus negros da sabedoria com os dedos longos do seu olhar...
estico os braços bem alto, para evitar as rugas do tempo...
mas o esforço é sempre breve...breve a sua vontade em me olhar...
limpo e limo os sentimentos crus...cozinho-os em tachos ardentes...
em fogueiras que consomem o ar que aviva a alma...
movo e giro o meu futuro e provo-o...o paladar da tristeza...o sabor da derrota...
junto as lágrimas da resignação para lhe acentuar o paladar...
e dou-lhe a provar...de sorriso largo...de olhos brilhantes...
a minha alma...
seguro os véus negros da sabedoria com os dedos longos do seu olhar...
estico os braços bem alto, para evitar as rugas do tempo...
mas o esforço é sempre breve...breve a sua vontade em me olhar...
limpo e limo os sentimentos crus...cozinho-os em tachos ardentes...
em fogueiras que consomem o ar que aviva a alma...
movo e giro o meu futuro e provo-o...o paladar da tristeza...o sabor da derrota...
junto as lágrimas da resignação para lhe acentuar o paladar...
e dou-lhe a provar...de sorriso largo...de olhos brilhantes...
a minha alma...
a mão que escorre as palavras lentas que um coração aceso ilumina...
a mão que se derrete sobre as palavras lestas que uma mente em bréu desenha...
a mão que um dia se ergueu para assassinar os espirítos turvos de passados longinquos...
a mão arrependida que geme ecos vibrantes de dor...
a mão agora decepada em vontade, em crença, em acção...
a mão perdida algures num coração agora escuro...observada por uma mente iluminada pela razão...
a mão que se derrete sobre as palavras lestas que uma mente em bréu desenha...
a mão que um dia se ergueu para assassinar os espirítos turvos de passados longinquos...
a mão arrependida que geme ecos vibrantes de dor...
a mão agora decepada em vontade, em crença, em acção...
a mão perdida algures num coração agora escuro...observada por uma mente iluminada pela razão...
quarta-feira, janeiro 14, 2004
Sonhos Partilhados
Os meus olhos tocam e acariciam a tua pele nua, macia e clara como nuvens espremidas...
passeio-me pelas formas que a luz, absorta na tua beleza, vai desenhando...
e, como artista, que utiliza como único modelo os sentimentos, aprecio a harmonia e procuro rupturas, mas a procura é a própria ruptura do olhar...
e então desisto, e contemplo a parede cinza da minha sala de estar e o que vejo és tu...ainda tu...a sorrir !!
e o retribuir desse sorriso sai-me de forma natural, mas sem peso, e então coro e choro e logo viro a face, com medo, mas sem motivo porque me pegas pelos braços com cordéis de palavras tecidas em sonhos, que ambos partilhámos...
e fazes-me mover e ter-te nos braços e, então, tudo o resto desaparece em triviais viagens para um espaço limitado em ideias, finito em espírito...porque o que sobra é o infinito de sonhos por nós partilhados...
Os meus olhos tocam e acariciam a tua pele nua, macia e clara como nuvens espremidas...
passeio-me pelas formas que a luz, absorta na tua beleza, vai desenhando...
e, como artista, que utiliza como único modelo os sentimentos, aprecio a harmonia e procuro rupturas, mas a procura é a própria ruptura do olhar...
e então desisto, e contemplo a parede cinza da minha sala de estar e o que vejo és tu...ainda tu...a sorrir !!
e o retribuir desse sorriso sai-me de forma natural, mas sem peso, e então coro e choro e logo viro a face, com medo, mas sem motivo porque me pegas pelos braços com cordéis de palavras tecidas em sonhos, que ambos partilhámos...
e fazes-me mover e ter-te nos braços e, então, tudo o resto desaparece em triviais viagens para um espaço limitado em ideias, finito em espírito...porque o que sobra é o infinito de sonhos por nós partilhados...
O sol e o seixo cor de púrpura
Lá ao fundo, as ondas comunicam por habilidosas formas desenhadas em espuma salgada, branca e aveludada…pela expressividade quase musical com que estas formas assumem no ponto mais elevado delas…e pela cadência trabalhada com que estas descem a pique contra a areia profunda…
São quase sempre monólogos sobre o sal que lhes dá a beleza, sobre a vida que arrastam, e que transportam nas suas longas e distantes viagens, sobre as suas esmeradas capacidades artísticas de moldarem as rochas, deixando para trás as suas eloquentes assinaturas...assinaturas em forma de declarações de amor ao vasto oceano, de que elas também fazem parte…
Entretanto, cá mais perto da praia, nos limites entre as orgulhosas ondas e a terra pintada de água, algumas delas irritam-se com a areia que lhes entra nos olhos…e, ao tentarem expelir esses grãos impertinentes, que as mantêm cegas, batem com violência contra rochas e contra os restantes grãos de areia...e, quanto mais forte batem, mais confusas são as palavras, mais caótica a cadência, mais difuso o sentido…
as ondas mais atrasadas assumem esta confusão, esta cegueira de sentidos, como uma declaração de guerra…uma disputa de território…uma prepotência que não estão dispostas a tolerar…uma tentativa de desferir um golpe profundo no seu orgulho...
Sentado, algures no pontão, observo as ondas gigantes, eriçadas, irritadas a debaterem-se com as pequenas partículas de areia…
Mais atrás, as demais ondas, feridas no seu orgulho, preparadas a mostrar o que valem, a quem lhes arruinou a calmaria daquele por do sol, assumem posições de ataque…entram em debandada contra as posições das primeiras…acotovelam-se e mostram-lhes do que são capazes…chicoteiam as rochas, arrastam enormes porções de areia consigo, libertam a espuma da raiva, gritam bem alto o quão poderosas conseguem ser…
O som de fúria e o movimento hostil destas entristece o sol, que se entretinha a observar delicadamente um pequeno seixo púrpura que lhe sorria…que lhe cantava canções de maresia, que lhe contava histórias de marés, que lhe segredava paixões entre correntes marítimas…
Um seixo, que atrevidamente se apaixonava pelo calor que o sol libertava…pela cor de um sol, que brilhando alto, corava com as canções, com as histórias, com os segredos partilhados…pelo seixo apaixonadamente contados…
A meio de uma canção de amor, entre um cavalo-marinho e um líquen dourado, as suas palavras foram arrancadas de forma violenta, o seu corpo usurpado, a sua música saqueada pelo som mais forte e pela fúria intempestiva de uma das ondas, que o arrastou consigo…que o engoliu e o conduziu para as entranhas de um oceano frio e escuro…longe do calor de um sol atento e luminoso…
O sol, não o encontrando, não sentindo o seu sorriso, não ouvindo a sua melodiosa voz, não sentindo mais a sua leve presença…decide fechar o véu, que o vai encobrindo, aos poucos…aos poucos, puxa o véu cinzento e negro, um véu coberto aqui e ali por réstias de algodão branco que teimosamente mantêm as formas das imagens apaixonadas das histórias do seixo cor de púrpura…e, embora o véu se feche quase por completo, continuamos a ver o sol…um sol triste, sozinho a abandonar aos poucos o local onde, outrora, um seixo e um sol falavam…
As nuvens, que assistiam ao romance e que se entretinham a esboçar as histórias, que ouviam, no céu azul, e que por isso haviam conquistado a amizade do sol, choram agora a sua despedida…choram violentamente…
Mas as ondas, absortas da carícia triste das nuvens e ainda enfunadas de orgulho, continuam no seu jogo mesquinho de posições...a mostrarem a todos e a ninguém a sua vaidade, a sua prepotência…alheadas da pouca luz…alheadas da escuridão que engole o céu…alheadas da destruição de sentimentos…
Até ao momento em que o cansaço se sobrepõe…e aos poucos se acalmam…e se esquecem da causa de tanta fúria…vencidas por si mesmas…acalmam como se nada se tivesse passado…felizes novamente brincam entre si…entre si e entre os demais elementos marinhos…
As gaivotas, tais ardinas da tristeza do dia anterior, aproximam-se para contar a todos a história de amor de um seixo cor de púrpura e de um sol que continua sempre a rodar, sobre uma esfera azul e verde, à procura do seu amor…
Lá ao fundo, as ondas comunicam por habilidosas formas desenhadas em espuma salgada, branca e aveludada…pela expressividade quase musical com que estas formas assumem no ponto mais elevado delas…e pela cadência trabalhada com que estas descem a pique contra a areia profunda…
São quase sempre monólogos sobre o sal que lhes dá a beleza, sobre a vida que arrastam, e que transportam nas suas longas e distantes viagens, sobre as suas esmeradas capacidades artísticas de moldarem as rochas, deixando para trás as suas eloquentes assinaturas...assinaturas em forma de declarações de amor ao vasto oceano, de que elas também fazem parte…
Entretanto, cá mais perto da praia, nos limites entre as orgulhosas ondas e a terra pintada de água, algumas delas irritam-se com a areia que lhes entra nos olhos…e, ao tentarem expelir esses grãos impertinentes, que as mantêm cegas, batem com violência contra rochas e contra os restantes grãos de areia...e, quanto mais forte batem, mais confusas são as palavras, mais caótica a cadência, mais difuso o sentido…
as ondas mais atrasadas assumem esta confusão, esta cegueira de sentidos, como uma declaração de guerra…uma disputa de território…uma prepotência que não estão dispostas a tolerar…uma tentativa de desferir um golpe profundo no seu orgulho...
Sentado, algures no pontão, observo as ondas gigantes, eriçadas, irritadas a debaterem-se com as pequenas partículas de areia…
Mais atrás, as demais ondas, feridas no seu orgulho, preparadas a mostrar o que valem, a quem lhes arruinou a calmaria daquele por do sol, assumem posições de ataque…entram em debandada contra as posições das primeiras…acotovelam-se e mostram-lhes do que são capazes…chicoteiam as rochas, arrastam enormes porções de areia consigo, libertam a espuma da raiva, gritam bem alto o quão poderosas conseguem ser…
O som de fúria e o movimento hostil destas entristece o sol, que se entretinha a observar delicadamente um pequeno seixo púrpura que lhe sorria…que lhe cantava canções de maresia, que lhe contava histórias de marés, que lhe segredava paixões entre correntes marítimas…
Um seixo, que atrevidamente se apaixonava pelo calor que o sol libertava…pela cor de um sol, que brilhando alto, corava com as canções, com as histórias, com os segredos partilhados…pelo seixo apaixonadamente contados…
A meio de uma canção de amor, entre um cavalo-marinho e um líquen dourado, as suas palavras foram arrancadas de forma violenta, o seu corpo usurpado, a sua música saqueada pelo som mais forte e pela fúria intempestiva de uma das ondas, que o arrastou consigo…que o engoliu e o conduziu para as entranhas de um oceano frio e escuro…longe do calor de um sol atento e luminoso…
O sol, não o encontrando, não sentindo o seu sorriso, não ouvindo a sua melodiosa voz, não sentindo mais a sua leve presença…decide fechar o véu, que o vai encobrindo, aos poucos…aos poucos, puxa o véu cinzento e negro, um véu coberto aqui e ali por réstias de algodão branco que teimosamente mantêm as formas das imagens apaixonadas das histórias do seixo cor de púrpura…e, embora o véu se feche quase por completo, continuamos a ver o sol…um sol triste, sozinho a abandonar aos poucos o local onde, outrora, um seixo e um sol falavam…
As nuvens, que assistiam ao romance e que se entretinham a esboçar as histórias, que ouviam, no céu azul, e que por isso haviam conquistado a amizade do sol, choram agora a sua despedida…choram violentamente…
Mas as ondas, absortas da carícia triste das nuvens e ainda enfunadas de orgulho, continuam no seu jogo mesquinho de posições...a mostrarem a todos e a ninguém a sua vaidade, a sua prepotência…alheadas da pouca luz…alheadas da escuridão que engole o céu…alheadas da destruição de sentimentos…
Até ao momento em que o cansaço se sobrepõe…e aos poucos se acalmam…e se esquecem da causa de tanta fúria…vencidas por si mesmas…acalmam como se nada se tivesse passado…felizes novamente brincam entre si…entre si e entre os demais elementos marinhos…
As gaivotas, tais ardinas da tristeza do dia anterior, aproximam-se para contar a todos a história de amor de um seixo cor de púrpura e de um sol que continua sempre a rodar, sobre uma esfera azul e verde, à procura do seu amor…
E será por todas ou por nenhuma razão que amor rima com dor...?
E será estranho quando as palavras seguem o sentido inverso dos sentidos?
E serei eu audaz quando me ergo e gemo monossílabos de dor quando o que deveria fazer seria...entre dentes e lençóis...expelir arrepios de amor?
E terei eu a coragem de assumir o inevitável destino de toda e qualquer volta no carrossel da vida? De compreender o determinismo implícito nas inexplicáveis acções que empreendo e que me causam insónias sofridas?
Ou deverei eu agir por cima de palavras, em palmas de mão lidas?
Poderei eu um dia usurpar a caneta que desenha a vida?
Poder tecer caminhos e emaranhados distorcendo a palavra desígnio?
Mudar conceitos...Torná-lo talvez em simples bebidas...
Ou em empresas falidas?
Ou ainda em feridas lambidas?
Conceitos e sons...
gemidos e latidos...
Misturem tudo e façam nutritivos batidos...
Desçam aos pés e instruam-nos a caminhar...
Subam aos cabelos e ensinem-nos a pentear...
Mantenham a meio e ensinem o corpo a amar...
Mas gritem bem alto e acreditem bem fundo...
Que por nenhuma razão amor rimará com dor!
E será estranho quando as palavras seguem o sentido inverso dos sentidos?
E serei eu audaz quando me ergo e gemo monossílabos de dor quando o que deveria fazer seria...entre dentes e lençóis...expelir arrepios de amor?
E terei eu a coragem de assumir o inevitável destino de toda e qualquer volta no carrossel da vida? De compreender o determinismo implícito nas inexplicáveis acções que empreendo e que me causam insónias sofridas?
Ou deverei eu agir por cima de palavras, em palmas de mão lidas?
Poderei eu um dia usurpar a caneta que desenha a vida?
Poder tecer caminhos e emaranhados distorcendo a palavra desígnio?
Mudar conceitos...Torná-lo talvez em simples bebidas...
Ou em empresas falidas?
Ou ainda em feridas lambidas?
Conceitos e sons...
gemidos e latidos...
Misturem tudo e façam nutritivos batidos...
Desçam aos pés e instruam-nos a caminhar...
Subam aos cabelos e ensinem-nos a pentear...
Mantenham a meio e ensinem o corpo a amar...
Mas gritem bem alto e acreditem bem fundo...
Que por nenhuma razão amor rimará com dor!
Toco levemente pequenos sonhos com a ponta da esperança...
distraio-me com os ténues e atractivos sons que eles exalam...distraio-me com os aromas de paz que me aquecem a alma...e deixo-me conduzir puxado por braços longos...por braços manipuladores que me esboçam vontades...que me intitulam a existência...que me gravam passados, bem passados na memória...que me segredam futuros grandiosos...e que me fazem esquecer momentos presentes...
fecho os olhos aos poucos e, com o sorriso apagado, ilumino a estrada, que se desenha à minha frente...a estrada de um futuro, caminhada no presente...
por vales, vejo montanhas e por montanhas, vales de ideias...
montanhas de sentimentos, que se acumulam sem palavras...
vales de palavras sem sentimentos...
Lá em cima, um céu transparente, em decepções pesadas e amargas, brota pequenas flores perfeitas...
tão perfeitas como a ausência de vida, que se ergue lentamente à minha frente e me clama...me chama...me desafia novamente ao esquecimento...
com palavras, ainda doces, de lábios grossos e negros, que precipitam pequenas flores vermelhas...
pequenas flores que gravitam, dançando à volta da minha existência, da alma ainda aquecida pelo engano...anestesiada e cirurgicamente usurpada...
pequenas flores que, ao tocarem a minha pele nua, queimam a minha vontade...chupam a minha verdade...limpam a minha liberdade...
e as pétalas, agora partidas, desmembradas, dilaceradas...pintam o leito onde a minha alma jaz viva...algures perto dos sonhos.
distraio-me com os ténues e atractivos sons que eles exalam...distraio-me com os aromas de paz que me aquecem a alma...e deixo-me conduzir puxado por braços longos...por braços manipuladores que me esboçam vontades...que me intitulam a existência...que me gravam passados, bem passados na memória...que me segredam futuros grandiosos...e que me fazem esquecer momentos presentes...
fecho os olhos aos poucos e, com o sorriso apagado, ilumino a estrada, que se desenha à minha frente...a estrada de um futuro, caminhada no presente...
por vales, vejo montanhas e por montanhas, vales de ideias...
montanhas de sentimentos, que se acumulam sem palavras...
vales de palavras sem sentimentos...
Lá em cima, um céu transparente, em decepções pesadas e amargas, brota pequenas flores perfeitas...
tão perfeitas como a ausência de vida, que se ergue lentamente à minha frente e me clama...me chama...me desafia novamente ao esquecimento...
com palavras, ainda doces, de lábios grossos e negros, que precipitam pequenas flores vermelhas...
pequenas flores que gravitam, dançando à volta da minha existência, da alma ainda aquecida pelo engano...anestesiada e cirurgicamente usurpada...
pequenas flores que, ao tocarem a minha pele nua, queimam a minha vontade...chupam a minha verdade...limpam a minha liberdade...
e as pétalas, agora partidas, desmembradas, dilaceradas...pintam o leito onde a minha alma jaz viva...algures perto dos sonhos.
sexta-feira, janeiro 09, 2004
Ecrã
O meu queixo ergue-se…os meus olhos procuram algo…algo escrito num ecrã cinzento…
Algo que me faça acreditar…algo que me inspire a viver…
Procuro em vão palavras de consolo…palavras de esperança…
De perdão…de motivação…de redenção…
Mas em vão olho…em vão sobrecarrego as pálpebras…a mais uma vez se erguerem…
Para dar espaço aos meus olhos…dar-lhes espaço para nada encontrarem…
Os olhos procuram, mas as lágrimas fecham as cortinas da esperança…
Cessam a busca e concentram-se na fonte…na escrita…
Mas quem escreve…quem ousa continuar…quem tece letras, palavras, frases de vida…sou eu…apenas eu…
e com estes dedos dormentes…feridos…calejados…que não ousam continuar a ter uso…que não ousam arriscar novas historias…
só me resta desligar o ecrã e…descansar…eternamente…
O meu queixo ergue-se…os meus olhos procuram algo…algo escrito num ecrã cinzento…
Algo que me faça acreditar…algo que me inspire a viver…
Procuro em vão palavras de consolo…palavras de esperança…
De perdão…de motivação…de redenção…
Mas em vão olho…em vão sobrecarrego as pálpebras…a mais uma vez se erguerem…
Para dar espaço aos meus olhos…dar-lhes espaço para nada encontrarem…
Os olhos procuram, mas as lágrimas fecham as cortinas da esperança…
Cessam a busca e concentram-se na fonte…na escrita…
Mas quem escreve…quem ousa continuar…quem tece letras, palavras, frases de vida…sou eu…apenas eu…
e com estes dedos dormentes…feridos…calejados…que não ousam continuar a ter uso…que não ousam arriscar novas historias…
só me resta desligar o ecrã e…descansar…eternamente…
O peixe e a lua
Um dia, tentando alcançar o céu um peixe emergiu do lago cor de lua...
com o apoio das rãs douradas, que lhe construiram uma bolha suficientemente grande para as dimensoes do seu corpo e suficientemente forte para suportar o seu peso e a sua estrutura agressiva de escamas, ele foi capaz de levantar voo...de levitar por cima dos prados contíguos ao lago, e de ver os pássaros lilases a passarem rente à bolha com o objectivo de controlarem o rumo de seu voo...
a lua parecia cada vez mais próxima e o lago cada vez mais distante...e o chilrear dos passaros a única ligação que ele agora tinha com a realidade de outrora...mas os seus olhos sorriam cada vez mais porque os pequenos pormenores da sua lua eram-lhe familiares, apesar da descoberta...e aos poucos e poucos o silêncio surgiu como manta negra recheada aqui e ali por pequenos pontos luminosos...mas a sua mente fervilhava de ideias que cantavam à lua e os seus olhos transpiravam os sentimentos do seu coração...
...os sentimentos que nasceram num primeiro olhar e que evoluiram com um voo de
descobertas...
Um dia, tentando alcançar o céu um peixe emergiu do lago cor de lua...
com o apoio das rãs douradas, que lhe construiram uma bolha suficientemente grande para as dimensoes do seu corpo e suficientemente forte para suportar o seu peso e a sua estrutura agressiva de escamas, ele foi capaz de levantar voo...de levitar por cima dos prados contíguos ao lago, e de ver os pássaros lilases a passarem rente à bolha com o objectivo de controlarem o rumo de seu voo...
a lua parecia cada vez mais próxima e o lago cada vez mais distante...e o chilrear dos passaros a única ligação que ele agora tinha com a realidade de outrora...mas os seus olhos sorriam cada vez mais porque os pequenos pormenores da sua lua eram-lhe familiares, apesar da descoberta...e aos poucos e poucos o silêncio surgiu como manta negra recheada aqui e ali por pequenos pontos luminosos...mas a sua mente fervilhava de ideias que cantavam à lua e os seus olhos transpiravam os sentimentos do seu coração...
...os sentimentos que nasceram num primeiro olhar e que evoluiram com um voo de
descobertas...
A colina e a Lua
uma colina ao longe...
consigo vê-la com alguma dificuldade, pela transparência do meu cortinado velho...
o livro, que tenho aberto encostado ao peito, enquanto o meu corpo preguiçoso se anicha no sofá confortável do meu quarto, protesta pelas palavras que não foram lidas...mas as minhas pálpebras desculpam-se com o cansaço, e os meus olhos com a necessidade de imaginar essas mesma palavras escritas numa colina algures...algures por detrás do cortinado...
lá fora, um mocho convida-me a dar o passo para o sonho...para o real imaginado...para as palavras escritas em livros de fantasia...e deixo-me levar aos poucos , contemplando uma lua que vai perdendo luz com o fechar dos meus olhos...
o som do uivo das árvores lá fora exprime essas mesmas palavras, que vou decifrando, enquanto me deixo transportar...
mais uma vez, abro os olhos contra a vontade das minhas pálpebras e consigo ver de novo a colina...mas agora dourada, e a lua...agora sem cor...uma lua que derramou todo o seu mel, tal qual recipiente, sobre uma colina sedenta de luz...
uma colina ao longe...
consigo vê-la com alguma dificuldade, pela transparência do meu cortinado velho...
o livro, que tenho aberto encostado ao peito, enquanto o meu corpo preguiçoso se anicha no sofá confortável do meu quarto, protesta pelas palavras que não foram lidas...mas as minhas pálpebras desculpam-se com o cansaço, e os meus olhos com a necessidade de imaginar essas mesma palavras escritas numa colina algures...algures por detrás do cortinado...
lá fora, um mocho convida-me a dar o passo para o sonho...para o real imaginado...para as palavras escritas em livros de fantasia...e deixo-me levar aos poucos , contemplando uma lua que vai perdendo luz com o fechar dos meus olhos...
o som do uivo das árvores lá fora exprime essas mesmas palavras, que vou decifrando, enquanto me deixo transportar...
mais uma vez, abro os olhos contra a vontade das minhas pálpebras e consigo ver de novo a colina...mas agora dourada, e a lua...agora sem cor...uma lua que derramou todo o seu mel, tal qual recipiente, sobre uma colina sedenta de luz...
Arco-íris
Sombras pequenas de pedrinhas ainda mais pequenas. Páro e olho...e vejo-as moverem-se e escreverem letras no chão sem lhes tocarem....apenas com a tinta da sombra....tinta de ilusão.
Escrevem palavras quentes, e as folhas que acolhem de braços abertos tais palavras mudam de cor...e revestem-se do vestido do calor arregalando os olhos e, pela primeira vez, exprimem sentimentos com sons que atraiem o vento que dança com elas....
E as nuvens contemplam e, com a tristeza de nao poderem dançar também, e com a tristeza de não poderem receber tais palavras afectuosas das pedrinhas, derramam lágrimas....e o barulho de lágrimas e a tristeza patente pela cor das nuvens sufoca o arco-iris que, de forma paternalista, vem em seu auxilio, sem hesitar, demonstrando todas as suas cores luminosas de forma pura, distraindo-as e fazendo com que, como crianças, deixem de chorar...
Sombras pequenas de pedrinhas ainda mais pequenas. Páro e olho...e vejo-as moverem-se e escreverem letras no chão sem lhes tocarem....apenas com a tinta da sombra....tinta de ilusão.
Escrevem palavras quentes, e as folhas que acolhem de braços abertos tais palavras mudam de cor...e revestem-se do vestido do calor arregalando os olhos e, pela primeira vez, exprimem sentimentos com sons que atraiem o vento que dança com elas....
E as nuvens contemplam e, com a tristeza de nao poderem dançar também, e com a tristeza de não poderem receber tais palavras afectuosas das pedrinhas, derramam lágrimas....e o barulho de lágrimas e a tristeza patente pela cor das nuvens sufoca o arco-iris que, de forma paternalista, vem em seu auxilio, sem hesitar, demonstrando todas as suas cores luminosas de forma pura, distraindo-as e fazendo com que, como crianças, deixem de chorar...
Ambiente
Levantei-me.
Olhei em frente e, a custo, já que os meus olhos se recusavam a aceitar luz, consegui ver um enorme prado, com formas e cores incompletas, como se Deus, um dia, tivesse pegado nuns quantos lápis de cor e, a pensar que poucos humanos passassem por aquele espaço, tivesse apenas esboçado um cenário simples sem se preocupar com pormenores...
sem se preocupar com os detalhes normais com os quais nos habituámos...como os fios de erva que traçam o chão com a tinta do vento...como as rugas das árvores que contam as verdadeiras histórias aos nossos avôs...como a pequena espuma de água que lava o tapete de seixos...
aliás...depois da audácia de nos conceder subjectividade, melhor seria que nem tudo estivesse completo, para que pudessemos interpretar segundo a nossa maneira de ver a realidade, ou, ainda mais ousadamente, e porque não... conceder-nos a possibilidade de mudarmos o cenário conforme nos aprazasse...conforme a nossa imaginação nos estimulasse...
mas exagerámos e construimos destruição entre cenários idílicos que não podemos repor...ou poderíamos, se para isso houvesse motivação...
Levantei-me.
Olhei em frente e, a custo, já que os meus olhos se recusavam a aceitar luz, consegui ver um enorme prado, com formas e cores incompletas, como se Deus, um dia, tivesse pegado nuns quantos lápis de cor e, a pensar que poucos humanos passassem por aquele espaço, tivesse apenas esboçado um cenário simples sem se preocupar com pormenores...
sem se preocupar com os detalhes normais com os quais nos habituámos...como os fios de erva que traçam o chão com a tinta do vento...como as rugas das árvores que contam as verdadeiras histórias aos nossos avôs...como a pequena espuma de água que lava o tapete de seixos...
aliás...depois da audácia de nos conceder subjectividade, melhor seria que nem tudo estivesse completo, para que pudessemos interpretar segundo a nossa maneira de ver a realidade, ou, ainda mais ousadamente, e porque não... conceder-nos a possibilidade de mudarmos o cenário conforme nos aprazasse...conforme a nossa imaginação nos estimulasse...
mas exagerámos e construimos destruição entre cenários idílicos que não podemos repor...ou poderíamos, se para isso houvesse motivação...
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